Decidir bem, no cotidiano, quase sempre envolve equilibrar critérios distintos, preço, qualidade, tempo, reputação, riscos, e, sobretudo, reconhecer que não avaliamos ganhos e perdas do mesmo modo. Em termos simples, em vez de olhar valores absolutos, humanos comparam cada alternativa ao que se considera “padrão”, o que pode ser a média das opções ou um objetivo mínimo, e somam os ganhos e perdas ponderados pela importância que atribui a cada critério. Assim, perdas costumam pesar mais do que ganhos equivalentes, algo que a psicologia comportamental documenta e que deve ser internalizado por modelos que se dedicam a auxiliar neste processo.
A Abordagem de Teoria das Perspectivas Multicritério (MPT-A), é um método que visa auxiliar nesta tarefa. O MPT-A se apoia na Teoria dos Prospectos, conhecida por descrever como as pessoas julgam ganhos e perdas em relação a um ponto de referência, e demonstra como essa lógica é satisfatoriamente aplicada a decisões com múltiplos critérios, em um esquema aditivo e transparente.
Para a aplicação do MPT-A, definem-se as alternativas e os critérios relevantes; depois, expressa-se a importância relativa desses critérios em forma de pesos; por fim, avaliam-se ganhos e perdas de cada alternativa em relação ao ponto de referência escolhido. A MPT-A faz isso integrando “probabilidades subjetivas”, que são a percepção do decisor sobre a chance ou o peso de cada critérios, a uma estrutura aditiva com uma função de valor adequada à Teoria das Perspectivas. O resultado é um placar ordenando as opções de acordo com as preferências declaradas. Essa integração é útil porque aproxima modelos econômicos clássicos, como valor esperado e utilidade esperada, de métodos multicritério modernos que lidam melhor com a sensibilidade a perdas, possibilitando análises que se alinham ao modo como de fato decidimos.
Leoneti & Gomes (2025) testam a abordagem com dados de um estudo de campo envolvendo 100 participantes e três casos de decisão, totalizando 300 observações. As preferências foram coletadas, transformadas em pesos por técnicas consagradas, e diferentes formas de padronização dos dados foram testadas para verificar o impacto na acurácia de cada modelo. Os resultados demonstraram que a MPT-A abre caminho para que economistas apliquem a Teoria dos Prospectos em problemas multicritério fora do domínio de risco explícito, enquanto que evidencia como métodos multicritério podem incorporar, de modo normativo, o comportamento de aversão à perda. Portanto, o MPT-A aumenta a fidelidade entre o “jeito humano” de decidir e a técnica empregada.
O benefício prático aparece em escolhas pessoais e profissionais. Ao selecionar um curso, por exemplo, a avaliação não precisa se reduzir a “preço versus qualidade” em abstrato; é possível declarar que reputação e tamanho de turma importam mais do que custo de material, comparar cada escola à sua referência e observar como pequenos ganhos e perdas se acumulam sob os pesos definidos. O mesmo raciocínio vale para priorização de projetos, compras de equipamentos ou seleção de lideranças: a lógica permanece a mesma e a decisão torna-se auditável, podendo explicar por que uma alternativa venceu e como o resultado mudaria se as prioridades mudassem. Em síntese, a MPT-A oferece caminhos para traduzir preferências em escolhas coerentes, respeitando a assimetria entre ganhos e perdas e aproximando teoria e prática em contextos diversos
OBS.: A função do MPT-A apresentada neste artigo foi modelada em planilha eletrônica e está disponível para a utilização acadêmica neste link
